"Editorial"JERÔNIMO FOI JUIZ POR UM EMPURRÃO DE ORLANDO MANSO
Quase todo dIa, pela manhã, o encontro era imperdível numa loja de carros do empresário Rogério Farias. Vendedores experientes, com quilometragem de estrada, sentavam no salão para escutar resenha da política e da intelectualidade. Jerônimo Roberto e eu, no centro do debate, colocávamos em pauta, por exemplo, eleições e obras de Graciliano Ramos.
Ele estudava para fazer concurso público para juiz de Direito, muito concorrido por advogados jovens e velhos. No ensaio da prova oral, ele e eu, Jerônimo, em pé, com a cara trancada, começava sempre assim, em voz alta: “Sociedade de Alagoas…” Fez, aprovado com nota alta, não foi nomeado e, como qualquer iniciando da vida, ficou desesperado.
Todas as sextas-feiras, um grupo de amigos se reunia na casa de Augusto Farias para um tradicional jantar. Na composição da mesa, o anfitrião, Jurandir Boia, Nilton Lins, Dalton Dória e eu jogávamos conversa fora sobre política e futebol. Jerônimo chegou atrasado, murcho, desiludido por ter sido preterido, ultrapassado por concorrentes que tiveram menos notas.
Augusto morava no Stella Maris, com outra geografia, sem o shopping, e decidimos agir na mesma noite, antes de irmos ao Bar do Alípio. Fomos - nós dois – a casa do desembargador Orlando Manso, contamos a história e nos reencontramos à beira mar. Foi assim que ele foi indicado juiz de Direito e, no cargo, virou um personagem importante da magistratura.